Melhoramento do Campo Nativo
Aino V. A. Jacques*
Seria muita pretensão falar em melhoramento do campo nativo, recurso natural que já vem sendo melhorado há milhares de anos pela própria natureza. Mas o uso de práticas de manejo e melhoramento, que podem ser equivalentes na maioria dos casos, se impõe para atender às nossas necessidades e interesses. Pois o propósito do manejo e melhoramento é aumentar a frequência das espécies desejáveis e diminuir a frequência das espécies indesejáveis (indesejáveis porque ainda não descobrimos a utilidade das mesmas). Manejar e melhorar para obter maior produtividade e consequentemente maior renda para o produtor rural. Se tomarmos a produtividade média da região de São Francisco de Paula, com práticas tradicionais, que está em torno de 30 kg/hectare/ano de peso vivo (Relatório da EMATER – 2005), teremos cerca de R$ 150,00/hectare/ano (ao preço de R$ 5,00/kg de peso vivo – setembro de 2017). Convenhamos que é uma rentabilidade muito aquém do real potencial do campo ativo quando bem manejado e melhorado que pode ultrapassar 400 e 600 Kg/hectare/ano de peso vivo, dependendo da região (EPAGRI, 2004; MESSIAS , G., 2005; FEDERACITE, 2012). Então é preciso entender que o manejo/melhoramento do campo é uma forma de aumentar a produtividade e a renda do produtor rural. Sem aumento de renda o produtor não permanece na atividade e irá procurar outras alternativas de uso da terra que possam garantir melhores condições de vida, lembrando que o produtor rural é o grande zelador do ecossistema pastagens naturais. Ainda, a herbívora com pecuária extensiva foi fator fundamental na formação e conservação do campo nativo até o presente. Não deve ser abandonada, a menos que queiramos eliminar totalmente o campo nativo, patrimônio de valor incalculável.
Infelizmente, uma das práticas de melhoramento que é a implantação de espécies de estação fria como aveia, azevém, trevos, cornichão e outras sobre o campo nativo é realizada com uso de espécies exóticas, embora algumas como azevém, trevo branco e trevo vermelho poderiam ser consideradas espécies naturalizadas devido ao fato de estarem presentes em nossos campos há muitas décadas e, no caso do azevém, por mais de um século. Temos que usar as forrageiras exóticas por que, simplesmente, não possuímos sementes comerciais de espécies forrageiras nativas, que torcemos para que sejam disponibilizadas num futuro próximo. Entretanto, a experiência de muitos anos tem mostrado que, quando bem manejadas, as pastagens com introdução de espécies de estação fria (inverno) não competem de forma a eliminar o campo nativo. Pois permanece a base de espécies nativas, fundamental para garantir a persistência das mesmas. Ainda, as espécies exóticas de estação fria crescem e se desenvolvem no período em que as espécies nativas entram em dormência, devido às baixas temperaturas do outono e inverno, e essas rebrotam no período favorável em termos de temperatura e umidade a partir da primavera. Parece que o pecuarista tem um destino cruel. Noutros tempos era cobrado para manter um índice de lotação que não era adequado para a condição da pastagem, num determinado ambiente, quando imaginavam que lotação seria indicador de produtividade, um grande equívoco. Agora o produtor que procura melhorar seu campo, sem destruí-lo, poderá ser penalizado.
Fica claro que melhorar o campo nativo é salvar o campo nativo, dádiva da natureza e patrimônio de valor inestimável.
*Produtor Rural – CITE 120 – Contato: avictor1938@gmail.com
Parabéns Prof Aino, sempre muito didático e lúcido em seu ensinamentos, abraço
O Professor Aino Jacques nos brinda com sua experiência. Sua propriedade “Sítio do Pinheirinho” é exemplo do que apregoa e referência para as futuras gerações.